terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ronaldo Lemos e Google

Apresentação de Ronaldo Lemos - Centro de Tecnologia e Sociedade - FGV/RJ, para Google!

http://www.youtube.com/watch?v=61pK9cgDOVY

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Lala Deheinzelin fala sobre Economia Criativa

Lala Deheinzelin, que é a primeira “Embaixatriz do Culturartes” (veja perfil ao lado do Portal no módulo Culturartes/Embaixador Culturartes) e também participará do Seminário Internacional de Economia Criativa, dias 10 e 11 de dezembro, no Centro de Convenções de Vitória, conversou com a Equipe Culturartes sobre o tema do Seminário e outras coisas mais. Confira.



CULTURARTES ­- Falar de Cultura e de que se é da área de Cultura tornou-se mais fácil no Brasil?

Lala - É mais fácil dizer que é da Economia Criativa do que da área da cultura. Porque todo mundo segue achando que cultura é coisa de maluquice. O nome Economia Criativa é muito interessante porque ele convida mais pessoas a participar do processo e deixa clara a transversalidade desse processo que está ligado a tudo que tem a ver com o cultural e o humano, por exemplo: Tem a ver com o direito, o comércio exterior, economia, turismo, publicidade, todas essas coisas, não é restrita aos artistas. Quando você fala em cultura as pessoas tendem a ouvir arte. Elas lembram de balé, música, teatro e não pensam em gastronomia, artesanato, parques temáticos ou em carnaval. O tema é muito amplo e ainda vai levar um tempo até mudarem essa imagem. Por isso, Economia Criativa é interessante, porque ela deixa claro que não se trata apenas do aspecto simbólico e se você pensa na cultura como uma função, ela fica ainda mais interessante, pois no meu entender, nada tem um potencial mais transformador do que a cultura tem. Você só consegue grandes transformações através da cultura.

CULTURARTES ­- Defina Economia Criativa.

Lala - Economia Criativa não é a invenção de nada novo, mas é colocar embaixo de um mesmo guarda-chuva todos os setores que trabalham com cultura e criatividade como matéria-prima. E a razão de juntar tudo isso é que uma vez constituídos como setor você consegue formar políticas públicas e ambientes adequados, como também fortalecer o setor. A Economia Criativa tem quatro áreas principais: um núcleo que vem das artes (teatro, música, artes visuais, artes plásticas, etc.); outro ligado à indústria de conteúdo (rádio, televisão, jornais, sites, etc.); tem um núcleo ligado ao serviço criativo (publicidade, design, moda, arquitetura, e outros); e tem um que abrange uma coisa enorme que é o entretenimento, lazer e a questão pública, onde entra toda a cultura popular, as festas de rua, as festas tradicionais, o artesanato e todas as manifestações que acontecem em espaços públicos. E nessa última parte tem uma grande diferença entre a gente e o hemisfério norte, porque isso lá não é tão forte. Eles tem uma indústria muito forte e uma atividade de cultura popular, de rua, que não é. E aqui no Brasil a cultura popular é forte.

CULTURARTES ­- O Pontão Culturartes, entre outras metas, busca a integração e articulação entre os setores da Cultura, do Turismo e do Terceiro Setor. Você acredita que ele possa contribuir com o desenvolvimento sustentável e humano proposto pela Economia Criativa?

Lala - Genial e importantíssimo. Com certeza. Tudo que está ligado a lazer e a tempo livre é o que mais tende a crescer. Eu acho que não existe turismo que não seja criativo. Porque turismo é a economia da experiência, porque é uma economia que é movida por aquilo que você vive e tem um caráter cultural. Você vai a algum lugar e tem um tipo de vivência e essa vivência depende da cultura do lugar que você está. E o turismo tende a ser ainda mais cultural, porque existe todo um campo novo que é muito divertido que é o turismo criativo, onde você não é passivo, mas ativo. Você pode viajar e aprender a fazer o artesanato do lugar. Pode ir à Bahia e aprender a convivência dos terreiros de candomblé. Você pode vir ao Espírito Santo e aprender como é a Cultura Pomerana. As pessoas querem cada vez mais isto: viver a cultura do lugar. Em relação ao Terceiro Setor é de onde surgem as experiências mais interessantes, tanto em termos de linguagem quanto em de forma de gestão inovadora. Os exemplos que estamos trazendo para o Seminário Internacional de Economia Criativa são os Doutores da Alegria, da Festa Literária de Parati, tudo vem daí, interface entre Terceiro Setor e criatividade. E o que gera daí é genial e também o que distingue o Brasil de outros lugares. O Reino Unido é que tem as experiências mais pioneiras em Indústria Criativa, mas em Economia Criativa para o desenvolvimento - que e é isso que está mais focado nessas coisas que tem interface com a Economia Solidária, que são originárias do Terceiro Setor, mesmo que sejam pequenas empresas, mas que tenham um caráter de inovação - o Brasil que é a liderança. Outros países não têm a mesma diversidade de experiências interessantes que nós temos.

CULTURARTES ­- Como você vê a participação dos governos municipais, estaduais e federal na discussão sobre Economia Criativa?

Lala - Esse é o nosso grande problema. A Economia Criativa tem um poder de transformação sem igual. Só que para dar certo tem que ter uma forma integrada entre iniciativa privada, setor público e os empreendedores criativos. O setor público em todas as esferas sofre de uma total falta de credibilidade, mas não sem motivos, porque como não existe a política de Estado, apenas a de governo, fica tudo ao sabor de quem está ali no momento. As coisas só começam e não continuam. As pessoas não podem ocupar os cargos sem conhecer o ofício. O setor público teria que funcionar com planos diretores que são soberanos, com pessoas com competência técnica e tenham uma forma de gestão democrática. Nós temos que brigar por isso, porque enquanto isso não mudar, não tem como, fica tudo impossível.

CULTURARTES ­- Como você analisa o Espírito Santo nesse contexto?

Lala - Oportunidades inigualáveis. Porque o Espírito Santo tem uma diversidade cultural e natural incríveis. Um tamanho manejável, um Estado rico, culto, com 78 municípios de fácil acesso e comunicação boa, então ele tem condições muito propícias. O que precisa é uma articulação entre os três setores.

CULTURARTES ­- Quais seriam os passos para fortalecer essa “Economia do Intangível”?

Lala - A primeira coisa é reconhecer o quanto o intangível é importante. Então precisa ter um trabalho com as próprias pessoas da área criativa que não conhecem o poder da área. Depois as lideranças empresariais e governamentais sobre o papel da cultura e da criatividade para saberem do que estamos falando. Isso é preparar terreno e tem que ser difundido. O próximo passo é desenvolver novos mecanismos de mensuração que sirvam de impacto, porque a nossa única medida é o econômico. Mas só que tudo que tem a ver com o intangível e o cultural é muito dimensional. Você tem a dimensão econômica, a social, a ambiental e a simbólica, mas só medimos a econômica. É como se medíssemos litro com régua, nunca vamos ter o tamanho real. Os economistas deviam criar meios para medir o intangível. E como o medimos? Por exemplo, não vendo o tamanho, mas o impacto dele. Para trabalhar a Economia Criativa é preciso sempre pensar nessas quatro dimensões.

CULTURARTES ­- Como você vê o Plano Nacional de Cultura.

Lala - Fundamental para que tenhamos política de Estado e não de governo. Em teoria é genial, essa coisa de fazer conferências municipais, estaduais, para fazer a grande conferência, desenhar o plano nacional, é tudo ótimo. A questão é a concretização disso. Do ponto de vista conceitual o trabalho do Ministério da Cultura é maravilhoso. O programa Cultura Viva é genial, o grande problema do ministério é operacional. O conceito é maior do que a máquina.