sexta-feira, 6 de junho de 2008

Economia da cultura tem crescimento acima da média

29 de fevereiro de 2008


Alessandro Soares / ASN - Agência Sebrae de Notícias, 29/02/2008
Espetáculos de circo, arranjos produtivos de entretenimento, incubadora de audiovisual e feiras de música marcam a atuação do Sebrae no apoio aos empreendimentos culturais

Brasília - As lojas de disco disfarçam, mas o modelo convencional do CD de fato agoniza. Para piorar, 2007 será lembrado pelo lançamento de In Rainbows, novo trabalho da banda britânica Radiohead, em que cada comprador decide quanto pagar para baixá-lo na internet, para desespero de gravadoras e lojistas. É também o ano marcado pela criação do Kindle, aquele aparelhinho com tela de 15 centímetros, que armazena até 200 livros.

Ainda é cedo para saber se o livro de papel será trocado por essa espécie de literatura mp3. Mas realmente os novos produtos culturais confundem e o futuro é nebuloso para a indústria cultural, o que não quer dizer que artistas e empresas do ramo vão falir. Ao contrário. A economia da cultura é o setor mais dinâmico da economia mundial. O crescimento médio é de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce 5,7%.

O Brasil não registra números assim, mas a curva é ascendente. Para o IBGE (2003), mais de 269 mil empresas atuam na produção cultural brasileira, ocupando mais de 1,4 milhão de profissionais. Por conta disso, o Sebrae tem apoiado feiras de música, festivais de TV e cinema e projetos de exportação de músicas e programas de TV e até shows de circo. Um bom exemplo é o produtor circense Junior Perim, 35, do Rio de Janeiro.

Circo Crescer e Viver

Vítima do trabalho infantil, Junior aos oito anos já catava caranguejo no litoral fluminense. Aos 11, matava galinhas num abatedouro de São Gonçalo (RJ), em jornada diária de 15 horas. Só aos 14 seguiu novo rumo. Começou a estudar e ingressou em movimentos comunitários. Já adulto, atuava com jovens de baixa renda, com o programa social de arte-educação ‘Crescer e Viver’. Em 2003, o projeto virou uma organização não-governamental.

Hoje, Junior Perim coordena dois centros. Um deles fica em São Gonçalo, onde acontecem oficinas de teatro, dança, capoeira, grafite e basquete de rua para 200 pessoas carentes de 7 a 24 anos. Já na lona do circo da Praça Onze, no Rio, são treinadas 300 pessoas com o mesmo perfil, em 16 tipos de oficinas circenses (acrobacias, trampolim acrobático, malabares e equilibrismo).

Além de interlocutor internacional da Rede Circo do Mundo Brasil, junto ao Cirque du Soleil, e da chancela da Unesco, Perim foi cavando cada vez mais espaço. “Com o apoio do Sebrae no Rio de Janeiro, introduzi técnicas de economia criativa, pois entendia que a inclusão social exigia também inclusão econômica”, afirma. Para isso, concebeu o espetáculo ‘Vida de Artista’, com patrocínio da Petrobras, e passou a produzir e vender a marca do seu circo em bolsas, roupas e acessórios.

Para compor o elenco, Junior Perim recrutou dezenas de jovens carentes até selecionar a atual trupe de 15 pessoas. A trilha sonora foi composta por Daniel Gonzaga (filho de Gonzaguinha), que montou estúdio na lona, junto com a garotada. O figurino também foi criado no local.

Quem ainda não assistiu às primeiras temporadas do espetáculo, na Praça Onze, poderá conferir em fevereiro de 2008 no Circo Voador, na Lapa. A Veja Rio já o elegeu como segundo melhor espetáculo cênico da cidade. “Isso nunca havia ocorrido antes com circo. Só dava teatro. Agora quero mais. Estou negociando com a Petrobras uma turnê para 10 cidades brasileiras. E pode anotar: em 10 anos, o Crescer e Viver será o melhor grupo de circo do Brasil”.

APL de entretenimento e incubadora de audiovisual

O Sebrae no Rio também atua em Conservatória, distrito do município de Valença (RJ), onde existe um arranjo produtivo local (APL) de entretenimento, com 70 empreendimentos que geram 508 empregos. O carro-chefe é a música, com seresteiros que invadem as ruas tocando temas de Nelson Gonçalves, Vicente Celestino e Silvio Caldas. Não por acaso a cidade é repleta de museus desses e de outros artistas da Era do Rádio. “Em 2008, queremos criar uma rede de museus”, destaca Heliana Marinho, gerente de Economia Criativa do Sebrae Rio.

Com se observa, o Sebrae leva para as artes todas as suas ferramentas de gestão. Se em Conservatória apóia o APL de entretenimento, em Cataguases, Minas Gerais, também está presente na incubadora de cultura Fábrica do Futuro, focada no audiovisual. A cidade se orgulha do passado cultural e dos filmes de Humberto Mauro, grande pioneiro do cinema brasileiro.

Para o diretor da Fábrica do Futuro, César Piva, a incubadora não é de empresas, nem é tecnológica. “Estamos incubando um processo que estimule a cadeia da economia criativa. Também formamos um público ávido por cultura e profissionais atentos ao mercado da cidade, evitando o êxodo para a capital”.

Nesse sentido, Cataguases fervilha. Só em 2007, foram realizados o III Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa (Cineport), o Circuito Mineiro do Audiovisual, e a oficina A Fotografia como Documentação, entre várias outras atrações. Para 2008, uma das novidades é o Festival de Ver e Fazer Filmes. “Tudo isso - aliado ao estudo estético e filosófico - é mais importante do que a manipulação técnica. Hoje, qualquer pessoa tem uma câmara na mão, com os aparelhos celulares. Mas para ter boas idéias é preciso mais esforço”.

Feira de música

No Ceará, o Sebrae igualmente apóia projetos audiovisuais, como o Festival Internacional da TV. Mas a maior presença é na música, a exemplo do Esquina Brasil, que promove cantores e instrumentistas locais e tem versões também da Paraíba e no Rio Grande do Norte. Criado pela Associação dos Produtores de Discos do Ceará (Prodisc), em parceria com o Sebrae, o programa produziu quatro CDs, com 70 bandas, nos mais variados estilos. Do renomado Quinteto da Paraíba à menos conhecida Dona Zefinha, que se apresentou recentemente na Feira de Música PopKomm, na Alemanha.

A excursão de Dona Zefinha foi facilitada com os contatos da Feira de Música de Fortaleza, que promoveu sua sexta edição, em agosto. No Recife, este mesmo evento foi realizado em fevereiro, no embalo das comemorações do centenário do frevo, onde pela primeira vez foi formada uma rodada de negócios para a música. A feira recifense registrou 174 reuniões. A previsão é de que em 12 meses os contatos da rodada gerem R$ 109 milhões.

Sapo Xulé

As cifras são também risonhas nas exportações de programas de TV, como para a produtora de São Paulo ‘Cinemas Animadores’, autora do seriado Sapo Xulé, feito em parceria com a canadense FRV. Orçado em R$ 5 milhões, o programa será exibido, em 2008, em emissoras do Canadá, França, Inglaterra e países da América Latina.

Para ser veiculado no Brasil, a produtora abriu mão da proposta inicial de capítulos de 22 minutos (modelo bem aceito no Canadá, mas recusado em nosso País), e resolveu criar intercomerciais de 2,5 minutos cada. “É muito bom para ser veiculado em aparelhos celulares, na internet e também na TV aberta”, aposta Sílvia Prado, diretora do projeto.

Como a Cinemas Animadores, várias outras produtoras têm bons motivos para brindar o novo ano. Na retrospectiva de 2007, fica na memória o grande avanço da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que veio facilitar e muito a vida das empresas especializadas em produção cultural. E, independentemente das novas tecnologias, a previsão é de que a economia da cultura vai continuar crescendo.

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