segunda-feira, 11 de junho de 2007

Novos modelos de negócios emergem impulsionado pelas novas tecnologias

Agência Carta Maior - Carlos Minuano*

Às margens da grande indústria fonográfica, que encolhe vertiginosamente, o cenário musical paraense exibe uma força produtiva que chama a atenção: artistas trabalhando sem cessar e uma quantidade enorme de CDs vendidos nas ruas, a preços acessíveis para a população. É a reinvenção do produto cultural nas periferias, um prodígio que ganha contornos cada vez mais robustos. Em Belém do Pará, o tecnobrega, ignorado pelo eixo mainstream Rio-São Paulo, movimenta milhões de reais e emprega milhares de pessoas.

Enquanto a Sony–BMG, com apenas 52 artistas contratados, lançou em 2006, ínfimos 18 CDs, no mesmo período, apenas o tecnobrega colocou em circulação cerca de 400 discos, além de movimentar, mensalmente, mais de R$ 6 milhões. Entre as bandas, a maioria nunca teve contrato com uma gravadora. Ainda assim, avaliam como positiva a venda de seus CDs por vendedores de rua. Claro, afinal, cumprem o papel vital de divulgar suas músicas. Do funk carioca ao cinema independente nigeriano, modelos semelhantes espalham-se pelo mundo, colocando em xeque velhos padrões.

Essas iniciativas ganharam o nome “mercado aberto”, ou “open business”. Uma fórmula criativa que equaciona informalidade com formalidade, cujas características são a sustentabilidade econômica, flexibilização dos direitos de propriedade intelectual, horizontalização da cadeia produtiva e ampliação do acesso à cultura, tudo isso impulsionado pela contribuição fundamental das novas tecnologias. Para compreender como se organiza esse novo formato, a Fundação Getulio Vargas - FGV, em parceria com a Fipe e o site Overmundo, encabeçado pelo antropólogo Hermano Vianna, foi até o lugar onde emerge esse fenômeno, as periferias.

O levantamento mapeou mais de 20 casos de “Open Business” no Brasil, nas áreas de moda, literatura, mídia, cinema, software, outros 20 na América Latina [Argentina, México e Colômbia], e ainda a indústria cinematográfica nigeriana. “O projeto buscou, ao longo de um ano buscar dados sobre esse universo, até então, desconhecido e identificar inovações que eles podem trazer”, conta Oona de Castro, da FGV, uma das coordenadoras do estudo. “Na Argentina, por exemplo, a tecnologia acabou com a necessidade de intermediação, gerando autonomia para os artistas”, acrescenta.

Na África Ocidental, a Nigéria, é outra amostra da robustez dos negócios abertos. O país, onde até pouco tempo não havia sequer salas de exibição, ostenta hoje a terceira maior indústria de cinema do planeta. “Apesar das restrições de acesso aos avanços tecnológicos, a pesquisa mostra que, nesses países em desenvolvimento, as populações vêm se apropriando, cada vez mais, dessas ferramentas”, observa a coordenadora da FGV. Ignoradas pela grande indústria cultural, dão de ombros para os padrões tradicionais de negócios, com isso tornam-se territórios férteis para novas formas de criação, produção e distribuição.

“Seja marginal, seja herói”
A cultura digital e os direitos autorais abertos tornaram-se a mola propulsora de uma revolução que a periferia parece não ter problemas em compreender. “Tipos diferenciados de licença, como o Creative Commons [que permite a um artista liberar parte de seus direitos autorais], são novas formas de negócios, essas comunidades já entenderam isso”, ressalta Cláudio Prado, coordenador de políticas digitais do MinC. Para ele, a questão da legalidade, ou da ilegalidade, é transitória. “É preciso transgressão para haver avanço, no mundo digital as coisas acontecem antes que o sistema capitalista as enxergue”.

O processo de gestação desses novos formatos, para umas das principais vozes da periferia paulistana, o escritor Ferréz, está relacionado com as inúmeras dificuldades enfrentadas pelas comunidades das periferias. “Conheço gente que trabalha muito, mas não consegue apoio, então faz com os próprios recursos”. Para ele, a opção que resta a essa usina cultural marginalizada é criar seus próprios padrões. Como diria o artista plástico Hélio Oiticica: “seja marginal, seja herói”.

(*)Carlos Minuano é repórter do 100canais - núcleo de jornalismo cultural idependente, parceiro de Carta Maior

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interesante o posicionamento. Interessante em virtude dos conceitos de “mercado aberto”, ou “open Business". que na linguagem do paraense chama-se PIRATARIA. Onde bandas e cantores fazem de tudo para os CDs serem pirateados em busca de popularização das suas musicas e com isso ganharem a vida com os shows. Quando se faz menção as gravadoras esquecem de toda a cadeia produtiva necessaria para a produção do CD. Coisa dispensada pelo Tecnobrega que apresenta produtos (gravação e material) de pessima qualidade.
Acredito em novas possibilidades de distribuição e acesso à música, mas com certeza esse citado na matéria, não é um dos indicados.